quarta-feira, 25 de maio de 2016

† ORAÇÃO MAIS ANTIGA A MÃE DE DEUS.


Αγαπούν την αλήθεια που είναι ΧΡΙΣΤΟΥ 









Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester, adquiriu no Egito um pequeno papiro, cujo conteúdo foi identificado em 1939; é o texto de uma oração dirigida a Maria Santíssima invocada como Theotókos (Mãe de Deus) no século III. Quando em 431 o Concilio de Éfeso proclamou Maria Theotókos, fez eco a uma tradição cujo primeiro termo conhecido remonta a Orígenes (243).



Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester (Inglaterra), adquiriu no Egito
um pequeno fragmento de papiro de 18 x 9,4 cm, que foi catalogado como Ryl. III, 470. Esse papiro apresenta uma oração mariana de grande importância tanto por seus dizeres como por sua data.
Examinaremos, a seguir, o conteúdo do papiro e a respectiva datação.

1. O conteúdo do papiro
O texto do fragmento papiráceo foi editado em 1938, sem que se tivessem até então identificado os seus dizeres. Isto só foi feito no ano seguinte por F. Mercenier: este pesquisador verificou que se tratava da oração mariana conhecida e recitada ainda hoje com as palavras iniciais “Sob a vossa proteção” (Sub tuum praesidium… em latim).
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Embora o texto não esteja completo, mas deteriorado pelas intempéries dos séculos (coisa normal entre os papiros), o sentido das palavras pode ser depreendido com clareza e segurança. Eis, a seguir, uma reprodução do papiro e a reconstrução do seu conteúdo. Entre colchetes estão coloca- das as letras gregas subentendidas para dar significado ao texto:
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O texto, devidamente reconstituído, diz o seguinte :
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Sob a tua misericórdia nos refugiamos. Mãe de Deus!
Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades, 
Mas livra-nos do perigo,
Única casta e bendita!
A oração, redigida na primeira pessoa do plural, parece ser, por isto mesmo, pertinente ao uso da Liturgia. Comentemo-la, levando em conta as traduções da mesma existentes nas diversas tradições litúrgicas.
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Sob a tua misericórdia nos refugiamos...
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Uma das diferenças mais notáveis quando consideramos as versões recentes, está em que o antigo orante se refugiava debaixo da misericórdia de Maria, ao passo que o texto latino diz praesidium, proteção, asilo, defesa – o que parece ser mais sóbrio.
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A expressão “sob a tua misericórdia” se encontra nas versões bizantina, copta e ambrosiana, ao passo que a Liturgia síria reza mais enfaticamente ainda: “sob o manto da tua misericórdia”. Por sua vez, o rito etíope diz: “sob a sombra de tuas asas”.
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Alguns manuscritos latinos do século X traduzem literalmente: sub tuis visceribus, isto é, em tuas entranhas nos refugiamos. Esta versão faz ressoar um semitismo bíblico: a misericórdia é comparada às entranhas de uma mãe, que em seu íntimo defende e abriga seu filho.
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Na verdade, o vocábulo grego eusplanchían significa boas entranhas. Como se vê, o texto original põe em relevo a confiança filial e a índole afetiva das relações entre o cristão orante e a Santa Mãe de Deus.
Theotókos. O título que comumente se traduz por “Mãe de Deus”, quer dizer, ao pé da letra: “Aquela que deu à luz Deus“, em latim Deipara. Este título professa que a pessoa que Maria deu à luz, é a pessoa do Filho de Deus ou a segunda Pessoa da SSma. Trindade na medida em que quis assumir a carne humana.
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Note-se que o vocábulo Theotóke é forma de vocativo; donde se depreende que a oração é dirigida a Maria, como expressão da grande antiguidade da devoção mariana no povo de Deus.
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Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades. Ao pé da letra, o fiel pede a Maria: “não afastes de nossas súplicas o teu olhar“. Basta, pois, que a Mãe de Deus esteja atenta às nossas súplicas para que estejamos seguros. Não se trata, porém, de qualquer súplica, mas daquelas que brotam das dificuldades.
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Mas livra-nos do perigo. Observe-se que o texto atual desta prece menciona “os perigos”, ao passo que o papiro fala “do perigo“. Quem recua até o ambiente egípcio do século III, verifica que o perigo por antonomásia eram as perseguições movidas pelo Império Romano contra os cristãos.
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O historiador Eusébio de Cesaréia (+339), em sua História da Igreja, descreve a grande crueldade das perseguições havidas no Egito. Por conseguinte, pode-se crer que a comunidade que compôs tal oração, em tempo de perseguição, recorria à proteção da misericórdia da Mãe de Deus. Se tal suposição é correta, vê-se que a oração refletia dramaticamente a alma do povo de Deus.
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Única casta e bendita! A exclamação final professa a virgindade de Maria Santíssima. O termo agne significa pura, casta, santa; além da virgindade, proclama a fidelidade de Maria à vontade de Deus.
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2. O problema da datação
Os estudiosos concordam entre si ao afirmar a grande antiguidade do texto, mas oscilam entre o século III e o século IV.
Os que preferem o século III valem-se de argumentos papirológicos (material sobre o qual se fez a escrita, tipo de letra, caligrafia…). Os partidários do século IV baseiam-se em razões de ordem doutrinária: o uso da expressão Theotókos, dizem, não se encontra antes do século IV.
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Todavia a pesquisa atenta das fontes literárias ou patrísticas leva a concluir claramente em favor do século III. Eis o que se pode apurar:
Por volta de 428 Nestório, Patriarca de Constantinopla, rejeitou o costume, arraigado no povo cristão, de chamar Maria Theotókos; preferia falar de Christotókos (a que deu à luz o Cristo).
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Com isto Nestório queria pretensamente salvaguardar a humanidade completa de Cristo, mas na verdade estava separando o divino e o humano em Jesus e negando a verdadeira Encarnação.
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A réplica a Nestório não se fez esperar. São Cirilo, Bispo de Alexandria, sede tradicionalmente oposta a Constantinopla em questões cristológicas, assumiu a defesa do título Theotókos. 
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O Concilio geral de Éfeso em 431, valendo-se das palavras de Cirilo, declarou que os Santos Padres “não duvidaram chamar Theotókos à SSma. Virgem” – o que não queria dizer que a Divindade começou a existir a partir de Maria, mas que Aquele que nasceu de Maria, desde o seio materno está unido hipostaticamente ao Verbo de Deus.
A controvérsia assim oriunda tem suas raízes em épocas anteriores. Com efeito; quando Nestório se pôs a negar o título Theotókos, encontrou-o já inveterado no povo de Deus, principalmente no Egito ou na região de Alexandria.
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Retrocedendo ao século IV encontramos o grande Bispo Atanásio de Alexandria, que por volta de 340 atribuiu algumas vezes o título Theotókos a Maria SSma., tanto nos seus escritos contra os arianos quanto na sua Vida de Antão.
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O antecessor de Atanásio na sede alexandrina, S. Alexandre, também usou tal título: numa de suas cartas afirma que o Verbo assumiu um corpo verdadeiro, e não aparente, de Maria, aTheotókos (PG 18, 568c).
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Em 300 foi eleito Bispo de Alexandria Pedro I: ao referir-se ao mistério da Encarnação, chama duas vezes Maria Theotókos (PG 18,517b). Nem Pedro nem Alexandre nem Atanásio sentem a necessidade de justificar ou explicar o título – o que mostra que era tranquilamente aceito pelo povo de Deus.
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Entrando agora no século III, notemos que o mártir alexandrino Piero (+300) cognominado Orígenes Júnior, escreveu um tratado sobre a Theotókos (Peri tes Theotókou), como refere Filipe de Side.
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Este título ocorre outrossim na obra As Bênçãos dos Patriarcas, de Hipólito de Roma (+235), que pode datar de fins do século II (julga-se, porém, que a referência ao título é devida a uma interpolação e não pertence à integridade do texto).
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Como quer que seja, pode-se reconstituir a série de autores alexandrinos que aplicam a Maria a designação Theotókos: Orígenes, Piero, Pedro I, Alexandre e Atanásio; tal série vai de 243 a 340, evidenciando a antiguidade do texto.
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Estes dados de literatura patrística são assaz significativos para que se possa atribuir a oração em pauta ao século III. Ela é testemunho de que a piedade mariana desde remotas épocas existe no povo de Deus, pondo em relevo a figura maternal de Maria: Mãe de Deus feito homem e Mãe dos homens que seguem a Cristo perseguido e vencedor da morte.

Fonte:http://www.adf.org.br/home/2013/05/uma-oracao-a-nossa-senhora-datada-do-seculo-iii/ 

terça-feira, 24 de maio de 2016

† FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO.

Αγαπούν την αλήθεια που είναι ΧΡΙΣΤΟΥ 

Lumen Gentium: É possível a salvação fora da Igreja?
"Noutro dia aqui utilizei uma frase de São Cipriano, que gostaria de me deter hoje: “fora da Igreja não há salvação”. Essa máxima tem que ser bem entendida. Esse axioma, em latim, se diz assim: “Salus extra Ecclesiam non est”. Ecclesiam, do Latim, significa literalmente “convocação”, “assembleia popular”. A Palavra latina Ecclesiam, que se traduz por Igreja, se traduz então por “assembleia dos convocados”, dos chamados a dedo, pelo nome, pela Palavra, convocados por Deus mesmo. A salvação é obra da graça. Portanto, Igreja não é um ajuntamento de pessoas por conta própria. Mas uma convocatória divina para uma missão. Portanto, não necessariamente um privilégio de sermos os melhores, porque santos e imaculados. Absolutamente. Mas uma escolha para uma missão de iluminar, um serviço, como uma lâmpada num ambiente escuro.
Origines, também no século terceiro fez igualmente, uma afirmação semelhante a de São Cipriano: ”Fora desta casa, a saber, a Igreja, ninguém é salvo”.  E o quarto concílio de Latrão, em 1215, definiu como dogma a seguinte declaração: “Uma é a Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva”. Pio XII, na Encíclica Humani Generis(HG,26) sensurava aqueles que “reduzem a uma forma vã a necessidade de pertença a Igreja para obter a salvação eterna”.  Ou seja, quem negligencia facilmente ser membro efetivo da Igreja.
Essas afirmações deram lugar a tantas distorções e acusações de intolerância e proselitismo. Por isso, temos que aqui entender bem esses axiomas, essas afirmações pilares dos Padres da Igreja.  Jesus Cristo mesmo falou que quando fosse levantado da terra, atrairia todos a Ele (Jo 12,32). Vejam, Jesus disse todos, não uma só parte, não uma seleção privilegiada. Todos serão, de algum modo e de alguma maneira, atraídos por Cristo. Até mesmo aqueles que não o conheceram, antes de sua vinda, como aqueles que não tiveram oportunidade de conhecê-lo depois. Temos aí, clara, a universidade da salvação de Cristo. São Paulo a Timóteo afirma que Deus quer a salvação de todos os homens e que tenham o conhecimento da verdade (1 Tim 2,1-6). Houve, na história da Igreja, uma heresia jansenista de que Deus não quereria salvar a todos. O jansenismo foi condenado pelos Papas Urbano VIII, Inocêncio X e Alexandre VII.
Sem dúvida que a graça de Cristo pode operar fora dos limites vivíveis da Igreja, mas nunca absolutamente sem relação real à Igreja. A redenção pessoal de cada homem só se pode operar pela Igreja: só por ela Cristo continua presente entre nós. Assim, renovando sem cessar o sacrifício da cruz, a Igreja esparge, difunde sobre a humanidade inteira a graça do calvário.  Então: “Fora da Igreja, não há salvação”, como afirmou São Cipriano, é endossado pelos Papas posteriores. Ou seja: Mesmo que alguém esteja fora da Igreja, se salva pelos méritos de Cristo que hoje concretamente se operam e se realizam na sua Igreja e por sua Igreja".
FONTE: http://br.radiovaticana.va/news/2016/05/04/lumen_gentium_%C3%A9_poss%C3%ADvel_a_salva%C3%A7%C3%A3o_fora_da_igreja/1227045